Pedro Cardoso

Acabrunhar

 

o silêncio me dói,

parte minha alma ao meio,

em pedaços não sei o que faço

morro de medo

 

seu corpo não me dá lugar

sua pele não me agasalha

sua boca não me chama

suas mãos não me acalentam

 

na noite escura

sinto seu frio em meu corpo

que torce na cama

a procura do seu

 

às vezes grito comigo

como se acordasse de um sonho

às vezes choro, choro muito,

como se chorasse seu pranto 

 

Confissões

 

Vou aninhar-me em sua alma

este corpo que veste a cor da seda,

que exala o cheiro do amor,

que esconde os mais puros segredos.

Com os dedos de quem toca harpa

abrirei caminhos desconhecidos,

assim como quem procura pedras,

lá na boca do rio.

Não haverá noites, nem dias,

para que eu me descanse

antes do primeiro mergulho

na nascente da vida.

Ouvirei como um pássaro ferido

todos os gemidos

sejam eles de prazer

ou de perigo.

Os meus olhos

ficarão atentos

a quaisquer movimentos

alheios aos meus pensamentos.

E, se os meus dedos falharem,

e, se os meus olhos mentirem,

usarei a minha boca, mesmo que maldita,

como o último artifício.  

 

 

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