Lílian Maial

DUAS


Somos duas 
Não gêmeas, ambas fêmeas, 
Somos duas. 
Uma destra, outra sinistra, 
Uma levada, outra anarquista. 
Uma sofisticada, outra caseira, 
Uma bem amada, outra presepeira. 

Somos duas. 
Uma que ama, outra que reclama. 
Uma que vence, outra que convence. 
Uma que estuda, outra arquiteta. 
Uma selvagem, outra irrequieta. 
Somos duas. 
Uma te quer, outra te repele 
Uma é mulher, outra mademoiselle. 
Uma sente muito, outra é prisioneira. 
Uma guarda tudo, outra é fuxiqueira. 

Somos duas. 
Uma livre, libertina. 
Outra simples, na cozinha. 
Uma ardente, sensual. 
Outra silente, casual. 
Somos duas 
Somos opostas 
Somos compostas 
Somos dispostas 
A ser uma só. 

 

PROMESSA

Doce mentira
armada de lembranças 
e de uma desbotada vontade 
de não ter vontade.

 
Sorriso de lágrima,
risos e dores na mesma proporção do inusitado.
Tangidas as últimas palavras sem sentido, 
antes do fim, 
desperdício de pingo e interjeição.

 
Há dias de silêncio de solidão.
Outros, de algazarra de palavras.
Sei  da morte da inversão, 
quando a solidão se faz balbúrdia 
e a palavra se obriga à concha.

 
Uma linha entre o desejo e o objeto.
Um instante, 
e tudo o que é conhecido é perdido.
Tudo o que é segredo é alcançado.
E nada mais resta, que a lembrança.

 
Olhar pela janela do verso e entender gaivotas.
Cumprir o destino da saudade.

 

 

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