Acabrunhar
o silêncio me dói,
parte minha alma ao meio,
em pedaços não sei o que faço
morro de medo
seu corpo não me dá lugar
sua pele não me agasalha
sua boca não me chama
suas mãos não me acalentam
na noite escura
sinto seu frio em meu corpo
que torce na cama
a procura do seu
às vezes grito comigo
como se acordasse de um sonho
às vezes choro, choro muito,
como se chorasse seu pranto
Confissões
Vou aninhar-me em sua alma
este corpo que veste a cor da seda,
que exala o cheiro do amor,
que esconde os mais puros segredos.
Com os dedos de quem toca harpa
abrirei caminhos desconhecidos,
assim como quem procura pedras,
lá na boca do rio.
Não haverá noites, nem dias,
para que eu me descanse
antes do primeiro mergulho
na nascente da vida.
Ouvirei como um pássaro ferido
todos os gemidos
sejam eles de prazer
ou de perigo.
Os meus olhos
ficarão atentos
a quaisquer movimentos
alheios aos meus pensamentos.
E, se os meus dedos falharem,
e, se os meus olhos mentirem,
usarei a minha boca, mesmo que maldita,
como o último artifício.