Nardélio Fernandes Luz

 Divina

 

És a mulher; és divina,

Abastada em encantos...

Rimas ricas, rimas líricas;

De belos corais: o canto...

 

És a inspiração, a canção,

De poetas, tenores e anjos...

A boa nova, de terna ventura,

Pré-anunciada por arcanjos...

 

És a obra-prima do artista:

Amálgama de arte e loucura...

O instrumento que gere a vida,

Pulcra encarnação da ternura...

 

És o fim do frio inverno,

Que placidamente espera...

O doce e agraciado aroma,

Da colorida primavera...

 

És os gorjeios e o revoar

De prazenteiros passarinhos...

A água adocicada e cristalina,

Em seu eterno burburinho...

 

És a branda brisa matutina,

Acariciando fresca e gentil...

Anunciando o dia ensolarado,

Com céu azul, cor de anil...

 

És a oração alegre, confiante,

De um crédulo agradecido...

Antes de viajar pelos sonhos,

Em seu repouso merecido...

 

És a firmeza sutil da amizade,

A mão estendida com amor...

Aquela que acarinha e alivia,

Que traz esperança e finda a dor...

 

És a manifestação da beleza,

A pureza... O brilho do cristal...

O sussurro pueril dos elementos,

Na sutileza da poesia universal...

 

 

Desabafo

 

Amigo, não queira saber,

Nem sequer tente entender,

O motivo desta solidão.

Esta que ninguém conhece,

E que às vezes se arrefece,

Alentando meu coração.

 

Quando a perdi no passado,

Foi um gesto desesperado,

Que selou a minha sorte.

Toquei sua alma com amor,

Mas a interpretação do tutor,

Levou-me, no fim, à morte.

 

Trespassado no abdômen,

Ajoelhei, encarei o homem,

E, não sei o porquê, sorri.

Talvez pela certeza da volta,

Não houve qualquer revolta,

E placidamente feneci.

 

Por muitas eras vaguei,

Há tanto tempo, nem sei,

Ansiando por reencontrá-la.

Noutras fêmeas procurei,

Mas nunca a vislumbrei,

Aqui, no céu, ou Valhala.

 

Contudo, não me desespero,

Pois o que mais nela venero,

Nunca a outro entregou.

Vivo, então, da lembrança,

E do cultivo da esperança,

De ter de volta meu amor.

 

Assim, amigo, é quem ama,

Espera sem qualquer drama,

Em companhia da saudade.

Em minha alma ainda há dor,

Mas imperecível é meu amor,

E será por toda a eternidade.

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