Divina
És a mulher; és divina,
Abastada em encantos...
Rimas ricas, rimas líricas;
De belos corais: o canto...
És a inspiração, a canção,
De poetas, tenores e anjos...
A boa nova, de terna ventura,
Pré-anunciada por arcanjos...
És a obra-prima do artista:
Amálgama de arte e loucura...
O instrumento que gere a vida,
Pulcra encarnação da ternura...
És o fim do frio inverno,
Que placidamente espera...
O doce e agraciado aroma,
Da colorida primavera...
És os gorjeios e o revoar
De prazenteiros passarinhos...
A água adocicada e cristalina,
Em seu eterno burburinho...
És a branda brisa matutina,
Acariciando fresca e gentil...
Anunciando o dia ensolarado,
Com céu azul, cor de anil...
És a oração alegre, confiante,
De um crédulo agradecido...
Antes de viajar pelos sonhos,
Em seu repouso merecido...
És a firmeza sutil da amizade,
A mão estendida com amor...
Aquela que acarinha e alivia,
Que traz esperança e finda a dor...
És a manifestação da beleza,
A pureza... O brilho do cristal...
O sussurro pueril dos elementos,
Na sutileza da poesia universal...
Desabafo
Amigo, não queira saber,
Nem sequer tente entender,
O motivo desta solidão.
Esta que ninguém conhece,
E que às vezes se arrefece,
Alentando meu coração.
Quando a perdi no passado,
Foi um gesto desesperado,
Que selou a minha sorte.
Toquei sua alma com amor,
Mas a interpretação do tutor,
Levou-me, no fim, à morte.
Trespassado no abdômen,
Ajoelhei, encarei o homem,
E, não sei o porquê, sorri.
Talvez pela certeza da volta,
Não houve qualquer revolta,
E placidamente feneci.
Por muitas eras vaguei,
Há tanto tempo, nem sei,
Ansiando por reencontrá-la.
Noutras fêmeas procurei,
Mas nunca a vislumbrei,
Aqui, no céu, ou Valhala.
Contudo, não me desespero,
Pois o que mais nela venero,
Nunca a outro entregou.
Vivo, então, da lembrança,
E do cultivo da esperança,
De ter de volta meu amor.
Assim, amigo, é quem ama,
Espera sem qualquer drama,
Em companhia da saudade.
Em minha alma ainda há dor,
Mas imperecível é meu amor,
E será por toda a eternidade.