ANOS PERDIDOS
Minha infância passada é fera sem selva
Descansa nos passados remotos da relva
Entretanto, a memória resgata a imagem.
E eu, adulto, me perco no antes selvagem.
Todos os delitos que cometi irão ser e surgir
Na idade da inocência pura eu tudo fiz perder
Hoje espreita meus passos o novo alvorecer
E a cada hora do dia testemunho o ressurgir.
Tenho espelhos inteiros para rostos partidos
E neles me vejo nos traços ocultos e perdidos
São fantasmas a atormentar os meus sentidos.
Que me seja a loucura a fonte cristalina do ser
Embriagado, curo o tédio da ressaca do anoitecer.
E de dia amanheço com a boca faminta de perecer
MELANCOLIA
Essa é minha noiva sem rosto
Mas que corre nas minhas veias
Bombeado pelo coração o veneno
(Ou antídoto?) De uma vida inteira.
Ela não se despe nas nossas núpcias
Quando a toco uma ferida se acumula
A mais em meu ser dela não exposto
Quando a beijo sinto o sabor do desgosto.
Faço amor com ela como quem mata
E ela, estranha, parece achar me seduzir
Ah! Como eu queria expulsá-la de mim.
Mas, num altar maldito, disse a ela o sim.
E, desde então, a vida já não possue cor
Além desse cinza choroso e sem sabor.